quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Talvez amargo e doce

Talvez eu seja uma fruta partida
Constelando lembranças de infância.
(Talvez eu seja a larva paquidérmica
talvez eu seja um dia de sol
talvez eu seja um medo qualquer de um barulho que não é do vento.)

Talvez eu seja um braço troncho
tremendo a espera de um beijo.
Ou dedos de um pé sufocado.
(Talvez um medo qualquer de um barulho que não é o vento.)

Talvez eu seja cabelos ainda compridos
dançando em volta de um umbigo.
Talvez eu seja um sorriso macio
talvez eu seja o sono de alguém num sagrado repouso sobre minhas pernas.
(talvez um medo...)

Talvez eu seja esta manhã
(esta mesma, onde as cores ainda despertam).
Talvez eu seja esta primavera
(sem tantas jabuticabas).
Talvez agora
(Talvez medo).

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Impudores

Seus dedos
e seu amor desmedido
estrangulam meu riso.

Meus medos
(e seus desejos cínicos)
estrangulam meus sonhos.

(Veja bem de quantas coisas precisamos pra viver)

Seu hálito venenoso
seu apetite
suas concavidades vorazes
(e nada disso precisa existir no meu universo)
tudo isso
tudo o que vem de você
tudo o que é seu
interrompe subitamente todos os meus fluxos.

Eu nem mesmo sei do que é que precisa uma pessoa pra viver.

Um instante do seu cheiro
dos seus barulhos
estrangulam violentamente um monte de coisas.

(É disso que eu preciso agora.)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Misantropia











Do mundo só sei a palavra...
a palavra presa na garganta.
a garganta aberta, as guelras coladas
o sangue coagulado,
o sufoco.
o silêncio dos índios a morrer de fome em estados inexistentes.
os chacras despertos.
os canais todos abertos.
o corpo.
o gado triste indo morrer em silêncio
neste exato momento
agora.
a vida muda de cada vida submersa.
e o silêncio dos peixes.
sei o ritmo das coisas que acontecem num ritmo sem sentido.
o fetiche de cada instante.
sei cada instante.
do mundo só sei o não saber.
só sei não querer dessas pessoas mesquinhas
o vazio do que tocam quando estão ao meu lado.
ou o silêncio do que tocam quando estão sozinhas.
o nada que são.
seus corações tão sem palavras.
e minha garganta a coagular-se inteira.
minhas guelras secando,
meu corpo sendo limpo e
frito.
e depois digerido.
consumido num ritual tão sem sentido.
tão sem nada haver sentido.
do mundo só sei meu desespero.
meu desamparo.
minha solidão.
do mundo só sei desilusão.
só sei a fome dos outros.
fome por corpos sem ossos.
sem pele, sem gordura.
sem nervos.
sem sangue.
corpos que são devorados o tempo todo
antes mesmo de se perceberem corpos.
vidas que se findam antes mesmo de se perceberem sós
(que da vida só sei a solidão).
e o silêncio de palavras que poderiam ser ditas.
escritas. gritadas. vividas. escutadas.
da vida só sei palavras esquecidas...

desta vida e deste mundo não quero mais saber.
quero a inteireza das pedras,
a infinitude do silêncio.
quero os carinhos do vento.
a verdade da água.
quero calar minhas palavras.
apelos surdos e famintos.
ávidos por mais e mais palavras.
quero nunca mais tanto vazio.
quero nunca mais tanto frio.
quero saciar a fome dos índios.
quero calar as palavras do mundo!
Deste mundo sei tão pouco
desta vida, quase nada.
E, a cada segundo,
quero saber menos.

Ó quanto riso...

A Colombina chegou à casa meio tonta da bebedeira. Cinco da manhã –suspirava pesado o relógio sobre o fogão. Por toda a noite vagara pelas ruas da cidade, embriagando-se com Pierrot, e ao mesmo tempo aguardando alguma aparição do Arlequim, num desespero daqueles de apertar o coração. Sentia o tempo todo uma inquietante angústia por tanto desperdício com maquiagem, perfume e salto alto. Isso sem falar na lingerie, que havia sido colocada com tanta paixão e que agora seria tirada com tanto desprezo. E no desejo, sufocado pela piedade, de apagar de vez da sua vida aquele Pierrot apaixonado. Vontade de esmagá-lo a cada palavra certa que ele proferia, a cada jura de amor que ele desferia, e cuspir-lhe na cara a cada beijo de piedade que ele suplicava! As roupas eram dignas de nojo. Um nojo imenso, que lhe contaminava o próprio corpo, as mãos e os cabelos antes perfumados e agora com o cheiro triste do cigarro e da gordura dos botecos. Um verdadeiro ódio pela maquiagem borrada pela noite, ódio dos brincos e colares arrancados pelos atos de desesperada e voluptuosa compaixão, ódio dos sonhos mortos e já apodrecidos espalhados pelos seios, pelo pescoço, pelo corpo inteiro. Um ódio pelo cheiro do sexo impregnando cada poro, cada gota de suor ressecada, cada lembrança, cada gargalhada gravada na cabeça.
A Colombina sabia que aquela noite havia sido apenas mais uma entre tantas em que se entregava ao prazer desesperado de sentir-se desejada a viva, apenas mais uma noite entregue à carência gulosa e áspera de um homem solitário e desprezível, apenas mais algumas horas de toda a sua vida de flor nascida no aterro, de borboleta pousada na sarjeta, de mulher perdida no mundo frio e sujo dos becos e dos loucos.
E sufocante era o nojo que aquela moça sentia diante de toda aquela beleza que agora manchava seu espelho. E suja era toda aquela poesia feita pelo Pierrot. Sujas todas as palavras, sujos todos os beijos e abraços e sonhos e lágrimas. Sujo era o amor que ela vira surgir naquele homem. Sujo, triste, verdadeiro, cruel, cruel, cruel...
Triste, ainda, era saber que o que lhe trazia todo esse nojo, todo esse desprezo, era justamente um amor nascido tão puro e tão grande, que o pobre Pierrot alimentava em seu coração, destruído em cada pedaço por cada palavra fria, cada riso debochado, cada olhar desprezível lançado por aquela moça para ele tão limpa. Limpa, pura, verdadeira. Mas triste, cruel, cruel, cruel...
Triste era o gosto de cachaça na garganta, triste era sentir o vazio dos sonhos perdidos e mortos. Triste o nojo dos homens, que tomava conta de todo o seu corpo, seus seios deliciosos, sua pele quente e macia, seus lábios corajosos e gulosos. O desejo é triste.
E naquela madrugada cruel e fria, já sem lingerie, sem perfume, sem maquiagem, olhando a cidade ainda escura pela janela, onde certamente vagava pelas ruas amargas um Pierrot desconsolado, sentindo o gosto azedo da cachaça suportada durante a noite, com nojo do próprio cheiro e do próprio gosto, sem esperança, sem amor, sem gosto por nada, a Colombina se preparava para a morte, doce e irresistivelmente certa, que descia pela garganta, dentro de cada pílula piedosa ingerida com água e açúcar.
Mal chegara a casa, após a noitada impiedosa, e jazia, nua, triste e fria. Levava para sempre consigo o amor miserável do Pierrot. E a lua, através da janela aberta, via aquela Colombina morrer, ansiando atormentada um último instante de misericórdia, em que surgisse pela porta um Arlequim que nunca havia de fato existido.

Em Italiano seria melhor

Nesta escuridão infindável esperava ser uma luz. Mas sou apenas eu.

No silêncio inquietante deste universo esperava ser um som.

Mas sou apenas eu.

Afogada em mil saudades, doces e amargas, perdida entre mil vontades, sou apenas eu.

E não há mais poesia, não há mais som, não há mais cor que consigam aliviar o aperto deste coração tão sufocado. A existência é como se nada nunca tivesse existido.

Olhando de perto, todos não passam de efígies sombrias. Tudo é tão eternamente distante; tudo me é tão espantosamente estranho. Inclusive eu, que não sou nada além de mim.

Estranha. Solitária. Silenciosamente corroída pelo tempo, como todo o resto.

Esperava ter a coragem de fazer algum verso.

Mas sou apenas eu.

Esperava ter alguma coragem.

Mas sou apenas eu. Sou apenas eu mesma e não me resta mais ninguém, porque ninguém nunca houve, de fato.

Nus



Entre sonhos e desejos
Entre soluços e gracejos
Meus olhos despem a noite.
Quiseram fossem poesia
Mas são apenas olhos
Engolindo ansiosos as palavras da vida
Escorrendo horas escuras e silenciosas
Lentamente tecendo manhãs mortas
E frias...
Entre ondas e gotas
Gotas...
meus olhos são oceanos...
Entre silêncios e vazios
Meus olhos soam.
E o mundo
o mundo e o tempo
despem-nos violentamente.

Ciclo. Ou: Início. Ou: Ameaço. (Ou: Descompasso)



No claro do dia me calo e me ouço. Espero.
Suspiro, soluço e engasgo com o almoço.
Transponho a tarde. Me mostro.
E na escuridão me troco, me viro do avesso.
Sufôco este da noite, que nem sequer mereço.
Mas caço. E acho.
E me perco, me parto em pedaços.
Explodo.
Engano o cansaço. Num salto me solto.
Invento um som, uma forma, um passo.
Percebo o espelho, me assusto com o soco.
Me despeço dos sonhos, junto os cascos.
E sei o que eu sinto: a solidão é um saco.
E sem sofrer mais que necessito,
me desamasso.


Eta vida besta, meu deus.

Ou:

E a poesia desse momento inunda minha vida inteira.

Sinais...

Hoje acordei com aquele desejo triste de, mais uma vez, partir. Olhei pros meus amigos, e tive, aliviada, a certeza de que continuariam seguindo seus caminhos, independente de minha permanente ausencia (sufocante, talvez: pra mim...). Quanto aos que me amam um tanto mais, provavelmente estes continuariam me amando onde quer que eu me encontrasse (e principalmente se eu me encontrasse), ou encontrariam outra pessoa que aceitasse receber seu amor condicional...
Hoje os pássaros na rua confidenciavam novos planos, na certa tramando alguma grande mudança. As janelas conspiravam, sussurrando expectativas e olhando pra mim por onde quer que eu passasse.
Tudo era sim.
Tudo era sinal.
Tudo me olhava nos olhos e dizia cristalinamente: adeus.
Aos poucos, constatei: não era o desejo de partir que me entristecia. Era essa bosta dessa maturidade feminina, que me avisava que a escolha entre uma essência e outra está chegando cada vez mais perto.

Apelo



Escrever é um apelo pro mundo
pra algum super herói
fada
duende
É um apelo pro Papai Noel
pro presidente
pros anjos
Pra alguém
que não esteja fazendo nada no momento
E, lendo,
aquiete a nossa solidão.

Maldito o dia em que tomei aquela Vodka


Eu te desejo noites sem dormir
Te desejo olhos inchados
Te desejo o NÓ na garganta que sufoca o tempo todo em qualquer lugar
até na praia num dia de sol.
Te desejo a consciência dos sonhos mortos
Te desejo vergonha
Arrependimento
Desejo que vc nunca consiga entender como foi que de repente aquele monte de viagens
de festas, de férias, de filhos e netos, de natais e carnavais
foi parar no lixo.
Desejo que vc nunca se esqueça do futuro que poderia ter sido
Desejo a angústia de nunca mais estar lá - no futuro- pra ter a certeza.

Desejo que vc não tenha com quem conversar certas coisas
Pelomenos não por enquanto.

E por fim
Eu te desejo uma solidão corrosiva - ainda que momentânea
que nem todos os beijos e sorrisos do mundo poderiam aquietar.
A não ser que fossem meus...

Sodade...

Começa de manhã, assim, de repente, depois de um sonho em terras distantes... Ou às vezes do nada, no meio do dia, depois de um perfume ou uma música antiga. A gente lembra que nasceu com o coração intacto, e que aos poucos foi se dividindo pelo mundo. E num surto de desapego, a gente passa anos se ancorando em portos distantes. A gente se abre, se joga, entrega de uma vez tudo o que é, sem se importar com o dia da partida. Esse dia sempre chega, e a gente vai embora num barquinho a remo, em busca de outros portos pra poder despejar todas as riquezas inestimáveis que encontramos em ilhas desertas... Como se o mundo, ficando cheio de histórias nossas, pudesse aliviar um pouco nossa dor de vivê-las uma só vez. Lembrar de cada rosto, de cada voz, de cada risada e vida trocada junta, é como tentar engolir de volta todos aqueles instantes que já se foram e se apagam cada vez mais na memória.
E o retorno é certamente mais doloroso, posto que nunca possível. Tudo se transforma o tempo todo – exceto o mundo, que continua o mesmo sempre – e a teia dos nossos dias deixados pra trás já se desfez: são dentes de leão plantados rigorosamente desalinhados. Não vale a pena voltar pra tentar colhê-los: nosso rastro é ventania. A gente não diminui quando se divide pelo mundo e pelas pessoas e pelas histórias e pelos momentos. A não ser que a gente queira. A não ser que a gente não tenha coragem de se doar por inteiro, de abandonar os navios, de espalhar os tesouros. É o medo que faz doer. O medo de no final ficar só, o medo de não aceitar isso nunca. O medo de não sobrar mais nada dentro da gente depois de um daqueles momentos de completa entrega.
Ser livre é ser infinito, ser quase livre é morrer de dor. Há que livrar-se dos sacos de areia e enfrentar dias de solidão pra alcançar as estrelas... Não se trata de habitar todas as casas, provar todas as sopas, beijar todas as bocas possíveis, uma após a outra. Trata-se de escolher uma fontezinha que seja, e nela mergulhar para sempre, pro resto da vida, até o último dos dias. Sem medo do que virá depois que a fonte secar. Sem o desejo cego de possuir a fonte com exclusividade. Sem a preocupação de se controlar o incontrolável. Sem o orgulho e a vaidade de se prender a ela para sempre. Ser livre é, também, ser só; mas principalmente ser inteiro. Ser livre é sofrer tentando, e morrer leve, sem o medo de, ao final de tanta auto-entrega, estar só consigo mesmo.

Schlaf Gut...

Durma bem, amorzinho... Sonhe com anjinhos, com dias ensolarados, nuvens de algodão... Conte os carneirinhos, abrace o ursinho, reze baixinho... Não se preocupe em escovar os dentes, o suor já esfriou... Seu copo está no criado, o piniquinho sob a cama... Nada vai perturbar a inocência do seu sono... O bicho papão e o monstro do armário já se foram, devem estar jogando damas nalguma praça agora escura... Você não precisa saber das tristezas, nem pensar nas angústias, nas desilusões... O mundo é doce... A vida não vai ser covarde se você não souber que ela pode ser... Vão querer te vender muitas coisas, muitas idéias, muito lixo, e muito dinheiro... Mas você não precisa disso... Você não precisa saber nada sobre o budismo, nada sobre o anarquismo, nada sobre o simbolismo... Não queira conhecer o abstracionismo, não pense em entender o niilismo, não tente estudar o determinismo... Basta-lhe o calor dessas cobertas, basta-lhe a esperança, a alegria, o amor... Não aceite nem questione, não arrisque, não perca... Fique assim para sempre, de olhinhos fechados, pensando em lugares tranquilos... Não descubra, por favor, que eles não existem... Não tenha medo por favor de que isso acabe amanhã pela manhã... Não chore no meio dos seus sonhos... Descubra por favor como ser pra sempre pequeno, como ser pra sempre feliz, como ser pra sempre livre... Por favor...

Silêncios

As linhas nas minhas mãos

são pergaminhos

que não sei ler.

Um dia foram tomando meu corpo todo e me tornando subitamente um grande silêncio misterioso.

São cortes alongados

sulcos

riscos que me sufocam e limiam buracos que se extendem até a ponta dos pés.

Sou traços

(pedaços)

de uma grande história silenciosa.

(Meus próprios soluços transbordam sem que eu mesma os ouça)

Solitários no meio deste nada que sou,

meus olhos são duas pedras opacas

que navegam neste mundo tão inundado por pares de pedras opacas.

Sou um sumidouro de ilusões

(um depósito de grandes solidões e paixões atormentadas)

Um poço

cheio de lodo

folhas molhadas

e insetos mortos.

Eu sou um buraco, ou qualquer outra coisa igualmente silenciosa.

Estes caminhos nas minhas mãos são escuros e solitários.

São caminhos que percorro descalça, com meu corpo tão miseravelmente cheio de nada.

Até o Fim

Eu não sei viver sem ela
AMAR É TUDO
Tá impregnada, no cheiro dentro do meu
cérebro
Volta aqui
dança comigo
Quero meus cabelos caindo nos seus
quero enganar esta dor sem tamanho
dor sem reméio
dança comigo como se nada estivesse acontecendo
como se fossemos elfas
Fadas
E nossos cabelos se misturassem pra sempre.
Quero o sufoco desse colo
sufocar aquele soluço nos nossos umbigos.
Se qualquer coisa der errado
no meio desses dias cansativos...
Volta aqui... E dança comigo?
Até o fim?

Segunda Feira Insana!

Não me amem!
Não me desejem!
Não me esperem!
Não me ajudem!
Não me telefonem!
Não me busquem!
Não me beijem!
Não me escrevam!
Mas POR FAVOR,
Me comprem!!!

Coisas em que pensei ao Estudar Dir. Processual Civil II- Execução

Que o mundo é muito maior que o STF, que nem tudo depende dos princípios categóricos, ou dos princípios normativos, ou das considerações dos doutores da Lei.
Que os seres humanos podem ser bons algumas vezes, se corrompendo pela sociedade, que aliás deve ter sido criada pelos golfinhos...
Que os seres humanos podem ser lobos uns dos outros outras vezes.
Que os seres humanos continuam sendo seres humanos, independente de alguns seres humanos como Aristóteles, ou Rousseau, ou Freud terem tentado conceituá-los.
Que as pessoas não são robôs programáveis pelas Leis.
Que cada um vive a vida do jeito que quer e ninguém sabe exatamente como o outro deveria viver a vida dele, porque ninguém sabe exatamente nem como viver a própria vida.
Que não adianta ter publicado compêndios sobre determinados assuntos sem nunca ter esboçado alguma poesia nos cadernos de escola.
Que mesmo as pessoas mais ricas e bem-sucedidas correm o risco de viver pra trabalhar de dia pra comer de noite. Só que em vez de comer pão e sopa elas vão comer caviar e champanhe.
Que as palavras mais poderosas e mais bonitas nem sempre são as mais difíceis de usar e aprender.
Na verdade, as palavras mais bonitas e poderosas costumam ser sempre as mais fáceis de usar e aprender.
Que todo mundo ama, todo mundo chora, todo mundo vai ao banheiro, todo mundo tem raiva, todo mundo tem dúvida, todo mundo já teve inveja, todo mundo queria ser e/ou namorar Daniela Cicarelli.
Exceto os que são/acham Graça na Marília Gabriela, por exemplo, e deixam muita gente se perguntando o porque de nem todo mundo querer as mesmas coisas da vida.
Que quem nunca se apaixonou na vida não tem o mínimo direito de dizer uma palavra sequer sobre os bêbados da cidade.
Que há vida inteligente onde menos se espera.
E vida muito burra onde se recebem os melhores salários.
Que a vida podia ser muito mais doce, mas também podia ser muito mais salgada.
E que mesmo assim tem gente que prefere as coisas amargas e azedas da vida.
Vai entender... Também tem gente que prefere a Marília Gabriela do que a Cicarelli, e a gente mal sabe como essas pessoas podem ser mais felizes que a gente que é igual a todo mundo...
Que o mundo não vai esperar você se recuperar, que ninguém quer saber se vc está mal, que seus colegas Nerds serão seus chefes... Mas que mesmo assim, a vida é muito, muito maior que o mundo. E mesmo o mundo é muito, muito maior do que o mercado de trabalho. (E do que o STF, como eu já havia dito antes)
Que as borboletas do Afeganistão, por exemplo, não estão nem aí se você ganhou o Prêmio Rio Branco. Aliás, nem mesmo as borboletas do Brasil se dão conta do que seja um prêmio Rio Branco- e ainda assim elas parecem bem felizes quando aparecem voando por aí.
Que existe vida após o suicídio acadêmico.
Ah, eu podia virar a noite escrevendo essas pequenas coisinhas assim, mas todos nós temos muito mais o que fazer –eu, por exemplo, tenho prova do Galdino Terça à noite...
Hoje foi um dia cinza e frio.
Como se as cores saíssem de dentro de mim pra pintar o céu.
E todas as coisas, as horas, e as pessoas estavam lentas e tristes, como que à espera de algo que as acordasse.
Hoje tudo estava com sono e com medo.
Como tem estado com sono e com medo todos esses últimos anos, essas últimas décadas, esses últimos séculos.
Como se por dentro todos percebêssemos que não existe uma ordem superior, nem um sistema que nos controle como no admirável mundo novo.
Construímos um Big Brother pra justificar nossa sensação de impotência. Imaginamos um homem bom corrompido por um sistema criado há muito tempo e controlado por sabe-se lá quem, mas no fundo sabemos que nós é que somos porcos e egoístas, nós é que criamos nosso sistemazinho dia após dia, através de cada passo que damos, seja na postura de dominado ou de dominador.
E nós mantemos esse sistema em equilíbrio a cada ação civilizada que temos pra tentar acreditar que é isso o que nos oprime, sendo que na verdade nós é que estamos insatisfeitos com a nossa condição de simples criaturas, tão vulneráveis quanto todas as outras do planeta.

E preferimos pensar que fomos criados para dominar o universo, e gastamos nosso tão desenvolvido intelecto pra criar carros possantes, televisões que conseguem reproduzir a realidade da forma mais fiel possível, e tantas outras coisas que hoje são criadas apenas pra que a gente tenha o que fazer com o dinheiro que passamos a vida tentando juntar.
Enquanto isso morremos de medo de explorar o que há fora da Terra, do sistema, da galáxia, além do universo visível, porque não suportamos a idéia de sermos simplesmente pequenas criaturas iguais a tantas outras tão distantes de nós no espaço e no tempo, e tão queridas por deus quanto nós, tão imagem e semelhança do Divino, tão ligadas à origem do universo quanto pensamos que somos.
Morremos de medo de descobrir que nosso sistema tão opressor é na verdade inventado e mantido por cada um de nós, que nosso deus tão justo e protetor é na verdade criado dentro da nossa cabeça, e que o sentido da nossa vida talvez seja tão simples quanto o de um vaso de tulipas.
Morremos de medo de sermos os simples animais que na verdade somos.
Morremos de medo de descobrir que somos tão egoístas e tão cruéis e tão gananciosos e tão tristes e tão solitários e tão perdidos como somos.
E temos medo de dizer certas palavras que subvertam nossa ordenzinha medíocre e tão dependente dos bons modos...
E somos pequenos.
Somos sozinhos.
Somos vazios.
Somos medrosos.
Somos cinzas e tristes como o dia de hoje.
Elefantes na sala de estar não fazem diferença na nossa vida.
Nem atentados terroristas, desastres naturais, chacinas, massacres, guerras, poluição.
Nos abalamos superficialmente com a injustiça da realidade só pra enganar nosso instinto de sobrevivência, mas na verdade não estamos nem aí.
Somos infelizes e desesperados, e aceitamos certas ilusões simplesmente pra acreditar que somos felizes.
Nos acostumamos às coisas ruins e acreditamos em pequenas coisas boas que aparecem só pra termos a sensação dos altos e baixos da vida.
Mas as coisas ruins não tem volta, e em pouco tempo as boas já não fazem mais efeito.
Gostamos de nos sentir diferentes e odiamos a idéia de que quando morremos nos transformamos em simples matéria orgânica, e para que isso se torne um pouco mais suportável, inventamos que assim nos integraremos para sempre a tudo o que existe, nos tornando mais evoluídos e mais perto de deus e do eterno.
Mas tudo o que queremos é acreditar que essa eternidade dê algum sentido pras nossas vidas vazias.
Não temos controle sobre as coisas que criamos, e sentimos uma angústia imensurável por não entender e nem controlar nossas manifestações artísticas.
Talvez por isso mesmo sentimos que nossa arte seja tão especial e tão eterna e tão divina e tão poderosa.
Tudo o que queremos desde que nascemos é a liberdade.
Mas a cada dia nos prendemos mais e mais às ditaduras do sistema que nós mesmos impomos, a cada dia nos escravizamos em troca de poder, seja desenvolvimento intelectual, seja pedaços de papel colorido com número impresso, que pode ser facilmente convertido em batatas fritas, iates, companheiros fiéis, orgasmos, diplomas e, inevitavelmente, mais pedaços de papel colorido com números impressos.
Cultivamos nosso orgulho e o perdemos pela vaidade.
Acreditamos que nunca seríamos capazes de matar ninguém, punimos os assassinos como se fossem menos humanos que nós, justificamos nosso poder de decidir o certo e o errado, mas aos poucos vamos tentando diminuir o que as outras pessoas pensam que representam pra elas mesmas e pro mundo, pensando que assim nós mesmos vamos passar a representar mais pra elas.
Buscamos a justiça deixando que alguns poucos tenham o poder sobre o bom e o mal.
Nos oprimimos de propósito, aceitamos as ditaduras, entregamos nosso poder, abrimos mão do nosso discernimento, pra sofrer por ser menos, pra justificar nossas fraquezas, pra esconder... o nosso medo.
E vamos vivendo...
Através dos dias frios e cinzas...
Nos sentindo sozinhos...
Com medo da verdade...
Nos iludindo pra sermos felizes...
Buscando respostas com medo de encontrá-las...
Com medo de sermos simples... seres humanos.
Criando mais dias frios e cinzas...
Fugindo da liberdade...
Nos entregando aos vícios...
E à solidão...
E à opressão do sistema...
E ao medo...
E o pior de tudo... É que fazemos tudo isso de propósito.
Por medo de não saber o que mais fazer com as nossas vidas pequenas e insignificantes.

Por uma vida menos ordinária...

Eu penso agora em todos os lugares lindíssimos q já vi. E me lembro que, enquanto olhava pra eles, sentia que bastava aquele instante pleno de beleza pra q o mundo, ou a própria vida já valessem a pena. E, como diria carlos Drummond, a poesia daquele momento inundava a minha vida inteira...
É assim também com as pessoas. Quando sentimos vontade de tratar alguém de uma maneira diferente, mais íntima, ou qdo temos o impulso de manifestar algum sentimento de desejo, ainda que este desejo seja seja simplesmente o de se estar perto, de se tocar de uma maneira especial, de se agradar, muitas vezes a gente reprime essa atitude- quem sabe um sorriso simpático, ou um olhar d afeto. A gente reprime o q talvez seja o mais belo do comportamento humano. Corta já na raiz aquilo q poderia vir a se tornar um daqueles momentos únicos de beleza, q poderia fazer a vida inteira valer a pena.
Isso tudo pq, antes q aconteça o tal sorriso, o tal abraço, beijo ou afago, já pensamos em todas as coisas negativas q já surgiram antes d outras manifestações d afeto frustradas.
Em vez d se pensar no gesto, na palavra, na carícia, pensa-se no inconveniente de se envolver emocionalmente e sofrer depois.Ou então na suposta obrigação futura de se prestar satisfações das próprias atitudes e sentimentos seja ao outro, a si mesmo ou à sociedade.
Mas pq isso acontece, se a vida é tão curta pra se pensar tanto assim no q deu errado, ou no q ainda não deu certo? Pq é q a gente não se dá conta do quão preciosos são esses pequenos instantes da nossa vida e pára de se preocupar com aquilo q na realidade não tem nenhum valor?
Pq se preocupar tanto com esse negócio de sociedade e com a maneira como ela vai receber a cada um de nós como é, se, no final, a tal "sociedade" não nos dá absolutamente nada em troca de sermos como "ela" exige q sejamos? (ou será q quem exige é a gente mesmo???)
Pq não aproveitar o pouco tempo q nos resta para amarmos mais, ou para demonstrarmos mais nosso amor pelos outros, pela vida e por nós mesmos?
Pq não beijar, abraçar, sorrir, amar, se declarar, se entregar, se jogar, arriscando tudo isso q pensamos ser importante, mas q na verdade nem é, e a o mesmo tempo ganhando mais e mais pequenos instantes repletos de beleza q fazem -estes sim- com q a nossa vida realmente valha a pena???