segunda-feira, 4 de maio de 2009

Misantropia











Do mundo só sei a palavra...
a palavra presa na garganta.
a garganta aberta, as guelras coladas
o sangue coagulado,
o sufoco.
o silêncio dos índios a morrer de fome em estados inexistentes.
os chacras despertos.
os canais todos abertos.
o corpo.
o gado triste indo morrer em silêncio
neste exato momento
agora.
a vida muda de cada vida submersa.
e o silêncio dos peixes.
sei o ritmo das coisas que acontecem num ritmo sem sentido.
o fetiche de cada instante.
sei cada instante.
do mundo só sei o não saber.
só sei não querer dessas pessoas mesquinhas
o vazio do que tocam quando estão ao meu lado.
ou o silêncio do que tocam quando estão sozinhas.
o nada que são.
seus corações tão sem palavras.
e minha garganta a coagular-se inteira.
minhas guelras secando,
meu corpo sendo limpo e
frito.
e depois digerido.
consumido num ritual tão sem sentido.
tão sem nada haver sentido.
do mundo só sei meu desespero.
meu desamparo.
minha solidão.
do mundo só sei desilusão.
só sei a fome dos outros.
fome por corpos sem ossos.
sem pele, sem gordura.
sem nervos.
sem sangue.
corpos que são devorados o tempo todo
antes mesmo de se perceberem corpos.
vidas que se findam antes mesmo de se perceberem sós
(que da vida só sei a solidão).
e o silêncio de palavras que poderiam ser ditas.
escritas. gritadas. vividas. escutadas.
da vida só sei palavras esquecidas...

desta vida e deste mundo não quero mais saber.
quero a inteireza das pedras,
a infinitude do silêncio.
quero os carinhos do vento.
a verdade da água.
quero calar minhas palavras.
apelos surdos e famintos.
ávidos por mais e mais palavras.
quero nunca mais tanto vazio.
quero nunca mais tanto frio.
quero saciar a fome dos índios.
quero calar as palavras do mundo!
Deste mundo sei tão pouco
desta vida, quase nada.
E, a cada segundo,
quero saber menos.

Um comentário:

  1. De você só quero palavras,
    da vida só quero ignorância, ignorância bela e imaculada,
    sem dejesos, pura e inocente,
    algo inatingivel para mim, animal estupido e transcendente,
    sou o paradoxo da vida, me perco entre desejos e necessidades.
    Queria o dom da palavra, elas quase que são cuspidas, escarradas, nd faz sentido quando saem.Tento ouvir o silêncio, humano estupido.Tento alcançar o inatingivel, continuo imovel.Enxergo luz onde há escuridão, sinto medo ao estar iluminado,
    entendo por convites bateres de porta!
    Adoro Banksy?oque isso quer dizer para você, além de simples palavras para quem espera algo mais.
    Me desculpe por este bicho-homem tão sedento por respostas,
    me desculpe po não entender que momentos são apenas para serem vividos,
    Me desculpe por não querer escutar o seu silêncio.

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