E o retorno é certamente mais doloroso, posto que nunca possível. Tudo se transforma o tempo todo – exceto o mundo, que continua o mesmo sempre – e a teia dos nossos dias deixados pra trás já se desfez: são dentes de leão plantados rigorosamente desalinhados. Não vale a pena voltar pra tentar colhê-los: nosso rastro é ventania. A gente não diminui quando se divide pelo mundo e pelas pessoas e pelas histórias e pelos momentos. A não ser que a gente queira. A não ser que a gente não tenha coragem de se doar por inteiro, de abandonar os navios, de espalhar os tesouros. É o medo que faz doer. O medo de no final ficar só, o medo de não aceitar isso nunca. O medo de não sobrar mais nada dentro da gente depois de um daqueles momentos de completa entrega.
Ser livre é ser infinito, ser quase livre é morrer de dor. Há que livrar-se dos sacos de areia e enfrentar dias de solidão pra alcançar as estrelas... Não se trata de habitar todas as casas, provar todas as sopas, beijar todas as bocas possíveis, uma após a outra. Trata-se de escolher uma fontezinha que seja, e nela mergulhar para sempre, pro resto da vida, até o último dos dias. Sem medo do que virá depois que a fonte secar. Sem o desejo cego de possuir a fonte com exclusividade. Sem a preocupação de se controlar o incontrolável. Sem o orgulho e a vaidade de se prender a ela para sempre. Ser livre é, também, ser só; mas principalmente ser inteiro. Ser livre é sofrer tentando, e morrer leve, sem o medo de, ao final de tanta auto-entrega, estar só consigo mesmo.
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